Inspiração e instintos.

Sentado ele buscava a ponta de sua inspiração, como quem procura passar o fio da linha pela agulha. E do mesmo modo como foge a linha das costureiras, a inspiração lhe fugia, sorrindo. Estava longe de suas anotações, de seu computador. Assistia na televisão a um programa barato de sábado à noite, no “mute”, enquanto esperava – e buscava – por algo que não vinha.
Esperava. E esperando estava quando o ouviu – e só depois viu –, o acidente. Uma motocicleta, uma moça. Da ampla janela da sala do apartamento que dividia com amigos, pode ver a motocicleta dar partida, dobrar a esquina e ganhar rapidamente a escuridão. Poucos segundos depois a multidão de curiosos se aglomerava sobre o corpo da moça, ávidos por ajudar.
Divididiu-se entre seus instintos que o impulsionavam a descer as escadas e ajudá-la também e a vontade de escrever, pois ela finalmente estava ali, aquela monstrinha que tanto lhe fugira durante àquelas horas de ócio.
Voltou-se para suas anotações, no quarto ao lado e pôs-se a escrever. “Pois morrerá também o pai”.

(Ao meu querido amigo, Juka, protagonista da história e que me trouxe inspiração para escrever de uma forma que não fazia há tempos)

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