Abismo.

"Encaro o monitor fixamente e uma ideia, como um gancho, me puxa."

Era uma tarde dominical qualquer, na praça de fronte ao canal. Podia ser um metrô, uma manhã, uma festa, uma praia... podia ser qualquer outra circunstância pela qual passaram (e foram tantas). Mas era lá, era aquele dia e ela nunca esqueceria. Talvez por ser lá onde nascera a cumplicidade displicente que tanto a agradara, talvez fossem aqueles olhos - tão próximos e sinceros -, ou os momentos que há tanto ansiava viver..
E passaram-se pedidos para o tempo, e passaram-se beijos tantos que faziam o corpo tremer, e passaram-se silêncios de eternidades.
Era domingo. Era falta de sol. Era o cheiro de creme dental pela manhã. Eram coisas que não se apagariam, como romances adolescentes, que ela, ignorando sua pouca idade, jamais imaginara viver.

E um abismo se fez entre aquele outubro de nuvens e esse fevereiro ensolarado. Pouco a pouco, se criou. Lento e fundo, sugou tudo quanto era sentimento cabível, fazendo com que parecesse a ela, realmente ridículo e juvenil aquele sentir que lhe parecera maturo e belo.

Sem culpados, o que começa sem amarras certamente acaba de mesmo modo. E assim sucedera-se.
(Hoje, toca-se a vida. Talvez um ainda sinta, talvez um nem tenha percebido, mas quem irá perguntar? E quem irá afirmar? Então, ela deixa que o silêncio fale e se afasta.)

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