As quintas-feiras e a descoberta do amor.

Era 25 de setembro. Era quinta-feira.

Ela trabalhava quando lhe ocorreu pela primeira vez a possibilidade: estava atrasada, era normal. Mas não desta vez, desta vez havia algo diferente.

Saindo, resolveu: "Melhor fazer o teste".
Fez.

Em casa, seguiu todos os procedimentos acompanhada de perto por aqueles olhos-mel, tão insistentes e ansiosos quanto os dela. E travou.
Dois traços. Positivo.

Ele a olhava com um sorriso bobo. Ela o olhava em pânico eminente.
"Você sabe quanto custa a mamadeira? E a chupeta? A fralda?". Mais pânico.
"Compre mais um teste, pode estar errado", era quase uma súplica do pavor da falta de preparo.

Ela sempre dissera - e pensara - que gerar uma vida fosse seu maior sonho, também porque até o momento pensava ser sua maior impossibilidade. Mas ver-se ali, de frente para o peso de responsabilidades mal contadas e planos ofuscados realmente a paralisara.

Ficou naquela posição por mais bons 30 minutos. Olhando o nada enquanto aqueles olhos-mel, ainda insistentes mas não mais ansiosos lhe diziam que tudo ficaria bem e seria lindo. E uma mescla de medo, culpa e amor começaram a inundá-la.
Obrigou-se a levantar e tomar banho.
Correu para internet. Aquele seu amigo nunca mentiria: GOOGLE. "Falso positivo", ela digitou com dedos de esperança.

Havia uma possibilidade mínima devido à alguns remédios que tomara, mas tão mínima quanto ganhar na loteria e ela nunca fora adepta aos jogos de aposta.

Foi ao médico na segunda-feira seguinte só para confirmar: Positivo. "Parabéns, mamãe!", as enfermeiras disseram.

E agora já sabia sorrir. O pânico fora quase todo diluindo - parte pelos olhos-mel, parte pela perspectiva de um pequeno guri encher-lhe a vida.
Não estava mais só. Nunca mais estaria só.

...
Era 25 de dezembro. Era quinta-feira também. Eram 19 semanas.

Seu bom e velho amigo Google já lhe disse que já naquela época o pequeno em sua barriga estava a aprontar das suas, mas até o momento não conseguira sentir mais do que uns poucos repuxõezinhos muito semelhantes ao efeito que, imaginava, fariam borboletas ali aprisionadas.

Começava a se acostumar com isso.

Em um almoço de família, no entanto, o que eram apenas sinais leves da presença de seu amor, tornou-se algo forte e palpável. Seu primeiro chute visível, seu primeiro "Olá" gestual.

E seus olhos encheram-se de lágrimas. Era real, afinal.

...
Era 29 de janeiro. Novamente, quinta-feira. Eram 24 semanas.

Há duas semanas marcara o tal "ultrassom-morfológico".

Era a segunda vez que se viam. Ela, os olhos-mel e o pequeno cesto de amor.
Ela decidira não saber o sexo. Ele queria.

Primeiro uma sensação gelada na barriga e começou:
A cabeça. O tronco. O coração. As mãos mexendo. As pernas chutando.

"É uma menina", a médica não conseguiu esconder.

E a reação involuntária fez-se presente em lágrimas e no sorriso bobo que transbordava - de novo - amor.

...
E desde então canta sem parar:
"Das 7 bilhões de pessoas que existem no mundo
Quem eu mais quero abraçar?
Mariá, Maria com acento no A
Mariá, Maria com acento no A"

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